Tuesday, February 15, 2011

Em Bouro — 'Coração de algodão': a música nos poemas




Transformar um poema numa música da autoria de um dos maiores cantores portugueses é o sonho de qualquer escritor e João Luís Dias concretizou-o, com a parceria de Pedro Barroso, o “trovador português”.

Essa alegria nasceu no salão nobre da Câmara Municipal de Terras de Bouro, na apresentação do livro “Coração de Algodão” escrito pelo operário do intercâmbio literário galaico-minhoto, através da editora e clube Calidum.

Aliás, isso mesmo foi sublinhado por Joaquim Cracel, presidente do Município terrabourense, que patrocinou a edição, quando deu os “parabéns” ao cronista, editor e poeta João Luís Dias pelo trabalho que tem feito na divulgação de escritores de um e de outro lado da Portela do Homem.

João luís Dias é um exemplo desse diálogo cultural que merece o reconhecimento dos terrabourenses” – destacou o autarca que estava acompanhado do seu homólogo de Lóvios, Lamela Bautista.

O autarca galego lamentou que não exista na sua terra o mesmo dinamismo e agradeceu à Calidum o que tem feito pelos autores galegos fazendo com que “a fronteira da Portela do Homem não exista ou seja uma ferida que está cicatrizada”.

Dirigindo-se ao autor de “Coração de algodão”, Lamela Bautista agradeceu a “oportunidade que nos dá para aprender coisas” pois com “pessoas assim não há adormecimento cultural. Sinto-me na minha casa”.

Cometendo a sua maior loucura automobilística – vir de Santarém a Terras de Bouro e voltar à cidade escalabitana no mesmo dia -, Pedro Barroso testemunhou o apreço que tem por este livro, para o qual assinou o prefácio.

O “trovador português” (que anseia por um espectáculo no Teatro Circo de Braga depois de tanto ter pedido a sua recuperação) descreveu “Coração de algodão” como “um momento enorme de paixão e homenagem à natureza geresiana” e o título “traduz a fase por que o poeta João Luís está a passar”.

Crítico mordaz da forma como Portugal (mal)trata os seus artistas, por comparação com o que se faz em outros países europeus, Pedro Barroso revelou que, no seu próximo CD, a sair lá para Novembro, vai incluir uma canção sua feita sobre um poema extraído do livro “Coração de Algodão”.

Na sala cheia, onde se viam os anteriores presidentes da Câmara Municipal, José Araújo e António Afonso, os amigos e admiradores de João Luís Dias ouviram o jornalista Costa Guimarães – numa intervenção com muita ironia e realismo - acicatar-lhes o apetite de ler estes 108 poemas porque “um livro só é um livro se for lido”.

A sessão terminou com o grupo musical da Calidum interpretar alguns poemas musicados pelo Manuel Afonso enquanto Pedro Barroso nos deliciava com o espectacular “Ti voglio bene”.


Debaixo d'Arcada — a rádio interactiva




Na passada semana, a tertúlia "Debaixo d'Arcada" transmitiu alguns reparos feitos por alguns ouvintes às considerações feitas por um dos (p)residentes, sobre o blogue Bracarae Auguste, às 19 horas, às ondas da Rádio Antena Minho, em 106 MHz.

A Casa do Areal, os serviços de urgência ou da morte no Hospital e redução de fregueias foram outros temas trazidos pelos mais lídimos representantes da democracia, os presidentes de Junta.

António Sousa, presidente da Junta de Freguesia da Sé, eleito pela CDU

Firmino Marques, presidente de S. Vitor, eleito pela Coligação PSD/CDS/PPM

João Nogueira, presidente de Gualtar, eleito pelo PS.

O programa é enriquecido com este blogue, onde os nossos leitores ouvintes podem participar, alimentando a interactividade com os nossos comentadores.

No blogue, além de outros assuntos sobre Braga, pode ouvir o programa, se não o pôde escutar à hora em que foi emitido, apesar da sua reemissão, às zero horas de sexta-feira.

Para saber mais, se não teve oportunidade de ouvir os últimos, vá até
http://www.antena-minho.pt e clique em podcast onde estão os últimos programas.

E nesta quinta-feira há mais, sempre às 19 horas e às 24 horas, em 106 Mhz.

Wednesday, February 2, 2011

Correio do Minho tem mais de cem anos


A última crónica sobre o centenário da República — cf. jornal Maria da Fonte, 28.01 2011 — não pode terminar com uma descoberta resultante das leituras em que tropeçamos ao longo destas 50 semanas: o jornal Correio do Minho tem mais de cem anos.

Esta certeza desmonta todas as escritas feitas até hoje, incluindo por nós próprios.

No dia 6 de Julho de 1926 aparece um diário em Braga com o nome do jornal que “anos antes surgira vinculado ao Partido Progressista e que agora renasce noutro contexto” — escreve Amadeu José Campos Sousa in “Braga no entardecer da Monarquia ao tempo da 1.ª República (1890-1926), Casa do Professor, Braga, 2004, p. 208.

O esse jornal é “Correio do Minho”, cuja data de fundação tem vindo a ser celebrada é 6 de Julho de 1926.

A partir desta nota de rodapé — sem a sagacidade técnica de um historiador que não somos — verifica-mos que o nome “Correio de Braga” surgiu em 1890 e terá sido um jornal que durou pouco tempo.
O nome “Correio do Minho” aparece associado ao Partido Progressista que dominava o círculo eleitoral de Braga desde 1897 e é perfeitamente natural que tivesse um meio de comunicação social que divulgasse as suas propostas políticas e as figuras proeminentes.

Um meio do Partido Progressista

A última década do século XIX é dominada em Braga pelo Partido Progressista (cf. Commercio do Minho,n.º 3401, de 10/12/1895) que retoma o poder em Braga nos anos 1898 a 1905, coincidindo com o poder em Lisboa.

Sabe-se que quem liderava o Partido Progressista eram proprietários, comerciantes, industriais, financeiros ou profissões liberais que dominavam a Associação Comercial, o Banco do Minho, o Ateneu Comercial, a Companhia de Seguros Fraternidade, e alguns padres, sob a liderança do Conde de Carcavelos (cf. Amadeu Sousa, in op. cit. p. 81-83) em substituição do Visconde da Torre (que se mudara para os Regeneradores).

Há referências ao jornal Correio do Minho, ligado ao Partido Progressista nos anos 1902 até 1907, no auge do domínio daquele partido em Braga. Este partido sofre uma cisão em 1897 e cria o seu jornal “O Progressista”.

A divisão deve ter acelerado a morte deste jornal e do “Correio do Minho” porque, em 1910, Braga possuía seis semanários, um bissemanário e um trissemanário, mas já não existe nem “O Progressista” nem o “Correio do Minho” (cf. Zara Coelho, in A Implantação da República na Imprensa de Braga, Lisboa, 1990, p. 100-120).

Sabe-se que o jornal “Correio do Minho” existiu — como bissemanário? — entre 1902 e 1907, ano em que se extinguiu — ao serviço do Partido Progressista e o seu nome (fresco na memória de Álvaro Pipa, militante daquele Partido) é repescado em 1926 por este farmacêutico da Rua do Souto.

O Chefe de Redacção do jornal Diário do Minho era assumidamente antifascista. Com a revolução de 28 de Maio de 1926, os administradores do Diário do Minho — a empresa Minho Gráfico — demitem-no a 3 de Julho.

O Director Álvaro Pipa, durante dois anos, já se tinha demitido no dia 2 de Junho: “saio pela porta. Pela janela não, porque não sou nem nunca fui acrobata".

No dia 3 de Julho de 1926, Constantino Ribeiro Coelho (chefe de redacção do Diário do Minho) proclama solidariedade com o Director e é acompanhado por três jornalistas (Bento Miguel Costa, Theotónio Gonçalves e Joaquim d’Oliveira Costa (cf. Amadeu José Campos de Sousa, op. cit. p. 208).
Três dias depois ressuscitava o jornal Correio do Minho...

Lampreia: um manjar de... abades




A certificação da lampreia do rio Minho que já era um petisco ímpar e muito apreciado pelos frades dos mosteiros instalados nas suas margens, nos séculos XII e XIII é uma tarefa prioritária para os municípios do Vale do Minho.

A Adriminho, o Aqua-museu de Cerveira, a Universidade de Aveiro e Francisco Sampaio constituem os principais actores na concretização deste projecto que passa também por estimular a constituição de uma confraria.
Isto mesmo foi anunciado na apresentação da segunda edição do festival de gastronomia e cultura que anima todos os fins de semana de Fevereiro e Março nos municípios banhados por este rio.

Ao mesmo tempo, os seis municípios promotores (Valença, Paredes de Coura, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Monção, Melgaço) querem unir esforços para promover a cultura e a tradição do Vale do Minho.

Francisco Sampaio, antigo presidente da Região de Turismo do Alto Minho, pai dos fins-de-semana Gastronômicos, revelou alguns passos deste processo cm base nas normas europeias.

Francisco Sampaio lamentou o atraso porque a França conseguiu em Nairóbi, em Dezembro, aprovar a culinária dos produtos regionais e “nós ficamos parados”, uma vez que já em 2000, podíamos ter avançado com este projecto.

Já temos uma parte importante através do Aquo-museu de Vila Nova de Cerveira, na parte científica do rio Minho, com a Escola Abel Salazar. A dúvida é saber se a lampreia do rio Minho tem especificidades próprias para dizermos que é única ou se ela é igual à lampreia de outros rios até Vila Real de Santo António” — começou por lembrar o antigo dirigente do turismo minhoto.

Está em estudo mas falta a denominação de Origem Protegida embora o que é mais rápido é o IGP — Identificação Geográfica Protegida para “o rio Minho todo”, a nível europeu.

Os pescadores de Galiza e os minhotos estão “de acordo, através de uma agrafe com um selo de garantia com um número que é colocado em todos os exemplares pescados no rio Minho”.
“É muitíssimo bom que isso possa acontecer em breve”



Outra questão europeia refere-se às “Especialidades Tradicionais Garantidas” — ETG — e aqui, como no arroz de sarrabulho (de porco bísaro)ou o pica-no-chão, o eurodeputado José Manuel Fernandes está a colaborar neste processo para “termos o nosso prato da lampreia, arroz de lampreia, melhor que a lampreia à bordalesa, que é o mais tradicional”.

Aqui exige-se que os restaurantes aderentes — cerca de uma centena mas bastam uns 40 — purifiquem a receita de modo a ser apresentado um “prato padrão” aceite por todos os restaurantes, a ser definido por cozinheiras mais antigas.

Foi este trabalho que Francisco Sampaio fez: deixou as cozinhas e foi para as bibliotecas e descobriu nos mosteiros de Santa Maria da Ínsua, (Caminha), S. Paio, em Ganfei (Valença), em Longos Vales (Monção), Paderne e Fiães (Melgaço) e até em Rubiães (Paredes de Coura) todos consumiam lampreia e tinham pesqueiras a partir da Lapela, em Monção.

Os pescadores ofereciam aos abades destes mosteiros as primícias, as primeiras lampreias pescadas.

Certificar a lampreia do rio Minho e estimular a constituição de uma confraria são os dois objectivos centrais da segunda edição do festival de gastronomia e cultura que anima todos os fins de semana de Fevereiro e Março nos municípios banhados por este rio.

O certame “Lampreia do rio Minho — um prato de excelência” foi apresentado no Castelo de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, pela Adri-minho e Entidade de Turismo Porto e Norte de Portugal, cujo presidente traçou como desafio tornar “o Vale do Minho um destino gastronômico de excelência”.

Melchior Moreira estava acompanhado pelos presidentes e representantes dos seis municípios envolvidos nesta operação e sustentou que este programa quer “aumentar a procura turística deste território, valorizar a gastronomia, dinamizar agentes locais e implementar estratégias supra-municipais de valorização de um recurso local com forte impacto na economia”.

Lampreia,
cultura,
recreio
e artes


Ao mesmo tempo, os seis municípios promotores (Valença, Paredes de Coura, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Monção, Melgaço) querem unir esforços para promover a cultura e a tradição do Vale do Minho.

A este programa aderiram cerca de uma centena de restaurantes daqueles concelhos onde os turistas são desafiados a “descobrir um rio de experiências e a deixar-se seduzir por uma corrente de emoções”.

A iniciativa é acompanhada de uma brochura que inclui os restaurantes aderentes e a programação cultural e desportiva que anima cada um dos seis concelhos ao longo dos dois meses.

A Adriminho, através de Maria José Codesso sublinhou que este projecto “vai de encontro às expectativas dos municípios do Vale do Minho”.
A vereadora melgacense reafirmou a vontade de criar a Confraria da Lampreia para defender a gastronomia tradicional com base num produto único”.

Mais assertivo foi o presidente da Câmara de Valença quando disse que “se a lampreia não é o melhor prato do mundo, passa agora a sê-lo” com estes fins-de-semana que são uma aposta para continuar”.

Estamos a promover uma região e um produto comum a todos nós” — advertiu Paulo Pereira, vereador da Câmara de Caminha, concelho que oferece um festival de doçaria a acompanhar degustação da lampreia.

Uma região “culturalmente mais rica e a certificação da lampreia do rio Minho” é o desejo de Sandra Pontedeira, da Câmara de Vila Nova de Cerveira que também saudou os pes-cadores do rio Minho porque eles também “tem valorizado a lampreia” numa terra de artes, musica e teatro para oferecer aos seus visitantes.

Augusto Domingues, da Câmara de Monção, elogiou esta parceria dos seis municípios pois “somos mais fortes para defender o que é bom”. No caso de Monção, Augusto Domingues sugeriu “ o melhor vinho do mundo para acompanhar o melhor prato do mundo e nos levar ao êxtase” e uma chave d’ouro, a 34.ª edição do Rally da lampreia, a 27 de Fevereiro.

Por sua vez, Manuel Monteiro, representante do único município sem rio Minho, Paredes de Coura, compensa ao dizer que “somos os melhores apreciadores da lampreia e os nossos restaurantes respondem à nossa exigência” num concelho que possui a truta, o museu regional, “os percursos terrestres, as rotas do xisto num festival de verde disponível para acolher bem quem nos visita”.

No final da apresentação do programa, a Escola Profissional ETAP brindou os convidados com um show cooking de lampreia, sob orientação da Chefe Helena Costa.