Tuesday, September 18, 2012

Braga não se pode alhear do (que se vive no) PS


É muito comum ouvir os representantes da nossa classe política lisboeta — quando elas não agradam — dizer que a verdadeira sondagem é a das urnas.

A democracia exerce-se através do voto individual, universal e secreto, pelo que outros exercícios são imperfeitos. É a sondagem das urnas.

Tanto é assim que todos aceitamos esta regra do jogo, quando decidimos participar nele e não há resultado posterior (vitória ou derrota) que justifique mudança da regras e de atitudes.

Vamos à questão, sem rodeios nem sofismas, que nos traz aqui, com lealdade, honestidade intelectual e respeito pelos militantes do PS, um partido essencial ao futuro de Braga, pelo que tem feito ao longo de 36 anos.

Em primeiro lugar, os números da eleição de Vítor Sousa, que se apresentou como candidato à liderança da Comissão política de Braga do PS, foram claros.

Em segundo lugar, Vítor Sousa não se apresentou aos militantes do PS como candidato à Câmara Municipal de Braga. Quem foi que o fez? Os militantes disseram não a quem se apresentou assim. Vítor Sousa não o fez.

Em terceiro lugar, Vítor Sousa disse antes e depois da eleição que cabe aos militantes do PS decidir o futuro incluindo a escolha de um candidato à Câmara Municipal.

Realizada a eleição, os militantes que prezam os superiores interesses do partido e os valores da democracia, devem aceitar o resultado e construir a unidade.

Que aconteceu? Em vez da unidade, surge uma lista alternativa à maioria vencedora para o Congresso da Federação do PS que é reforçadamente derrotada pelo voto dos militantes. Foi só para chatear, dirão.

Em quarto lugar, é aos militantes do PS — que gere os destinos de Braga desde 1976, o que reforça responsabilidade diante dos bracarenses — que cabe apresentar a melhor solução para o futuro de Braga.

É legítimo perguntar: os partidos políticos, com todos os defeitos e valores, deixaram de ser os instrumentos de combate da democracia em Portugal, sendo substituídos por estudos de opinião pública?

Quem se apresentou como candidato à Câmara de Braga aos militantes socialistas — apesar de inúmeros artigos de opinião de alguns que se arrogaram ao direito indevido de serem tutores dos militantes, tratando-os como incapazes — já conhece os resultados da verdadeira sondagem.

O estrebuchar dos comportamentos que se seguiram — lista para o Congresso Federativo e agora o pedido de uma sondagem — escondem realidades indecentes e obscenas para a democracia e o PS de Braga.

A começar por estarmos diante de um projecto pessoal e não político, acolitado por uma casta dita letrada, superior e detentora do pensamento político de uma “candidatura maior” que os militantes “menores” rejeitaram.

Depois, revelam todos — incluindo assessores presidenciais, professores e catedráticos — alguma lentidão na compreensão da realidade bracarense: o adversário é o PSD, não é Vítor Sousa nem os 70% de socialistas que o escolheram.

É essa a homenagem que prestam a Mesquita Machado, à sombra do qual engordaram nestas décadas?

Ninguém entende. Só se começarem a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira.  Se é isso, entreguem o cartão, porque não merecem ser militantes de nenhum partido democrático.

Debaixo d'Arcada: regresso após férias

Todas as quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio de Braga Antena Minho,, em 106 Mhz, com reemissão cinco horas depois,  Debaixo d'Arcada é o nome de uma tertúlia sobre temas da actualidade minhota e bracarense.

É um  exercício plural de cidadania sobre temas que interessam aos bracarenses no qual participam os agentes mais directos da nossa democracia, os presidentes de Junta.
São eles,

António Sousa, presidente da Junta de Freguesia da Sé, eleito pela CDU

Firmino Marques, presidente de S. Vitor, eleito pela Coligação PSD/CDS

João Nogueira, presidente de Gualtar, eleito pelo PS.

Deixamos aqui o link do primeiro programa depois das Férias de  Verão.

http://www.antena-minho.pt/podcast.php?p=2528


Saturday, May 12, 2012

Um programa na rádio de Braga Antena Minho

Todas as quintas-feiras, às 19 horas, com reemissão cinco horas depois,  Debaixo d'Arcada é o nome de uma tertúlia sobre temas da actualidade minhota e bracarense.



É um  exercício plural de cidadania sobre temas que interessam aos bracarenses no qual participam os agentes mais directos da nossa democracia, os presidentes de Junta.
São eles,

António Sousa, presidente da Junta de Freguesia da Sé, eleito pela CDU

Firmino Marques, presidente de S. Vitor, eleito pela Coligação PSD/CDS

João Nogueira, presidente de Gualtar, eleito pelo PS.

Gala da Palavra no D. Diogo de Sousa



A palavra vestiu-se de poemas, engalanou-se de música (vocal e instrumental), inspirou depoimentos e coreografou danças que alimentaram um sarau cultural no repleto auditório do Colégio D. Diogo de Sousa, com a presença (falada e cantada) de Ana Bacalhau, do grupo Deolinda.

Trata-se de uma “tradição muito agradável” a mostrar que “somos aquilo que é fundamental, somos uma escola cultural” – sustentou o director da escola no início do sarau.

O Padre Cândido Azevedo e Sá não escondeu a sua alegria ao ver tantos pais, alunos, professores e convidados na sala numa noite em que o Colégio “gosta da palavra” e quis “elevar o espírito num mundo que só fala de números”.

O Director agradeceu a presença de Ana Bacalhau e de Zé Pedro Martins, compositor da banda, definindo-os como “pessoas com espírito de cultura que procura criar de forma moderna”.

Nesta iniciativa do Departamento de Língua Portuguesa, participaram alunos do ensino secundário, mas coube à professora Isabel Fidalgo abrir a noite com a recitação de poemas de Eugénio de Andrade.

Começa assim a festa do prazer das palavras “como quem morde as rosas”, tendo Ana Bacalhau escolhido a palavra “empatia” como a sua favorita, ao passo que aquela expressão que mais detesta é ”ah, isso vai ser muito complicado”, desafiando todos os jovens a fazer como ela: “arranjei uma maneira de descomplicar”.

Sobre as canções que interpreta, diz que são  feitas de histórias com personagens várias que nos rodeiam” e quanto a autores preferidos fala de Camões, Sophia de Mello Breyner, Bob Dylan, José Afonso e António Variações, colocando Fernando Pessoa no topo.

Para férias, Ana bacalhau sugeriu aos alunos que levem um livro de Miguel Torga, como “Novos Contos da Montanha”, sublinhando o “poder da palavra como agitador de consciências” porque um “músico não é um robot para debitar notas, mas oferecer um olhar crítico sobre o que vivo, o que vivemos neste momento e neste mundo”.

Depois de afirmar que “Amália tem muita pinta”, Ana Bacalhau recordou que “era muito marrona na escola” e pegar numa viola serviu para cantar “aquilo que sinto, vivo e observo”.

Num momento em que se prepara para retomar a escrita de canções – “que deixei de escrever” – os interlocutores da conversa desafiaram-na a escolher as suas palavras, as que a definem. Ana Bacalhau prefere “cantar, aprender, Fernando Pessoa, esperança, Mouraria, Patinho de Borracha, palco, português e Amália”.

Após a conversa de Ana Bacalhau, que fechou com duas canções “a capella”, a pedido dos alunos, coube aos miúdos do ensino primário testemunharem sobre a sua palavra favorita, desde amor até árvores, passando por confiança, amor, cores, etc.

Um ensemble de cordas — em estreia — serviu de “intervalo” na noite em que as palavras tiveram “todo o tempo do mundo” com a música de Rui Veloso, interpretada por alunos do 11.º ano, enquanto os do nono ano interpretaram “Velho”, de Mafalda Veiga.

A noite encerrou com uma exibição de dança que deixou encantado quem preferiu esta noite a um jogo de futebol na Liga Europa.

Braga em Teste: a diversão da matemática

Um grupo de turistas, de visita à cidade, decidiu subir o escadório do Santuário do Bom Jesus que é constituído por 583 degraus. Como o ritmo de subida era diferente, o grupo acabou por separar-se em três grupos mais pequenos.
O grupo onde ia a Marta parou depois de ter subido quatro onze avos dos degraus e o do Sérgio ao fim de cinco onze avos. Quantos degraus tinha subido o grupo do Sérgio quando parou?

 Este é um dos muitos exercícios incluídos num livro apresentado agora que une a Matemática à história, monumentalidade e gastronomia sem esquecer pessoas que marcaram a história de Braga.

 Miguel Soares é o autor desta ideia feliz para ajudar os alunos do sexto ano de escolaridade a preparar os exames finais de matemática, de uma forma divertida, de modo a estimular os adolescentes a gostar mais da matemática, essa ciência abstracta cuja utilidade para a vida é tantas vezes posta em xeque.

 A obra deste jovem professor de Matemática do colégio Dom Diogo de Sousa foi lançada pela editora lugar da palavra que há um ano nos surpreendeu com uma colectânea de histórias de Heróis à moda do Minho em que explora as expressões e palavras típicas do falar minhoto.

 O sucesso de “Heróis à moda do Minho” – com a venda de cem mil exemplares — bem deve ser desejado para este “Braga em teste”, com seis provas modelo que consolida os conteúdos ao longo do ano escolar e revê os assuntos estudados ao longo do quinto e sexto anos.

 Segundo as palavras do editor João Carlos Brito, estamos perante um magnífico trabalho que mostra a utilidade da matemática para a vida, criando referencias a monumentos de Braga para ajudar os alunos a conhecer melhor a Roma Portuguesa.

 “Braga em teste” constitui uma boa fonte de onde pode jorrar motivação para trabalhar a matemática e despertar para a riqueza cultural histórica de uma cidade onde o passeio de fim-de-semana não tem que resumir-se ao centro comercial da moda.

 Cada uma das provas modelo é um roteiro diferente, durante o qual os alunos são chamados a aplicar os conteúdos, conceitos e números, estando organizadas de acordo com as normas do Ministério da Educação.

 Braga em Teste é uma boa oportunidade para os adolescentes perceberem que aquilo que aprenderam na sala de aula é útil e os ajuda a conhecer a história da cidade, em todas as suas vertentes, sendo até adoçado por um exercício sobre o Pudim Abade de Priscos.

 Miguel Soares é filho de peixe — um antigo colaborador do Correio do Minho — e quer ensinar os alunos a nadar sem se afundarem na matemática, num ano em que se estreiam os exames nacionais no sexto ano de escolaridade.

 Depois de os levar em passeios até à Fonte do Ídolo, usando os Transportes Urbanos, o autor conduz os jovens matemáticos até ao Teatro Circo para um espectáculo de viola braguesa, numa rota que incluí diversificados exercícios.

 A segunda rota, perdão, prova centra-se no Bom Jesus com passeio matemático pelo Elevador único no mundo, enquanto a terceira os delicia com a avenida Central e toda a monumentalidade circundante antes de participarem num arraial de números do S. João.

As Sete Fontes inspiram a prova quatro e a cinco começa com exercícios artísticos na Sé, tem um intervalo no Arco da Porta nova e termina no Palácio do Raio , onde se apanha o autocarro para fazer uma raiz quadrada no Mosteiro de Tibães.

 A última prova realiza-se na Torre de Menagem, com a altura de 30 metros, de onde se vislumbra o Jardim de Santa Bárbara, mas o exercício mais interessante está guardado para o final, nas bancadas do novo Estádio de Braga onde eles tem de saber quantos adeptos arsenalistas estavam presentes se eles ocupavam quatro quintos do estádio.

 Enfim, “Braga em teste” é uma homenagem aos docentes que honram a profissão que abraçaram feita por um jovem professor de Matemática.

Wednesday, March 21, 2012

Fernando Rosas em Braga: crise actual ameaça democracia




O historiador Fernando Rosas firmou, em Braga, que “a crise actual começa a pôr em causa a democracia”. Este professor falava sexta-feira à noite no Colégio D. Diogo de Sousa, durante um colóquio sobre os quatro factores da durabilidade do Estado Novo, numa iniciativa do departamento de história desta escola católica.

Perante um auditório cheio, Fernando Rosas esmiuçou os quatro factores que contribuíram para que o regime de Salazar tivesse durado 48 anos, marcado pela “arte de saber durar”.

O primeiro foi “manter as Forças Armadas, quanto ao essencial, unidas sob a tutela do regime”, uma vez que elas são a “espinha dorsal de violência do Estado não legitimado pela força do voto”.

Em 1918, a ditadura era um “caldeirão”, com a entrada de Salazar sem apoios militares mas a congregar as "várias direitas políticas e dos interesses”.

Em 1932, os generais deixam Salazar ser primeiro ministro em troca de manter o ministério da Defesa e a modernização das Forças Armadas. Em 1937 aproveita divisões entre militares e chama a si a Defesa, com o capitão Santos Costa que se mantém no poder até 1958.

Durante este período executa reformas militares de modo a que os jovens oficiais assumam o comando, “politizando os comandos em favor do regime”.

As FA estão com o regime e Salazar resiste em 1945, aguentando a primeira crise. A segunda crise surge com Humberto Delgado, o mais jovem general das FA, produzido nas escolas da Nato. Uma onde de esperança rodeia Humberto Delgado mas o comandos guardam fidelidade a Salazar, em troca da cabeça de Santos Costa. Salazar cede e aceita Botelho Moniz como ministro da Defesa, mesmo sabendo que ele prepara o golpe que se dá em 1961.



GENERAIS
INCAPAZES
DE DERRUBAR
SALAZAR

Foi um grande aperto para Salazar que demite todas as chefias pela rádio", invocando a necessidade de acorrer a Angola.

A elite do regime “não quer correr riscos económicos, sociais e políticos” e permite a Salazar criar um comando fiel até 1974 (para toda a guerra colonial).

Como os “generais nunca foram capazes de derrubar Salazar, são os oficiais que fazem a guerra no terreno” que vão derrubar o regime.

O segundo factor de durabilidade é a aliança com a Igreja Católica em que o Estado “usa a Igreja como instrumento legitimador do regime” – denuncia Fernando Rosas, lembrando que a “relação não foi fácil”.

As negociações para a Concordata “duraram muitos anos e foram duríssimas” porque Salazar não queria ceder à Igreja a “proibição do divórcio” mas era um acordo importante para segurar a direita republicana, dentro das Forças Armadas.

À Igreja só devolveu os imóveis sem utilidade pública, as igrejas, em trocas de privilégios fiscais e escolas. No entanto, a igreja rural defende o carácter providencial do regime.

Salazar começa a desconfiar da Acção Católica, embrião de um partido democrata cristão. O receio de Salazar cresce quando o bispo do Porto exige o direito dos católicos a organizarem-se politicamente.

O terceiro factor foi a unidade das várias direitas num partido único, criado pelo Ministério do Interior, onde reunia integralistas, republicanos, fascistas e tecnocratas em torno de Salazar.

Até à II Guerra Mundial apenas existiu lista única, mas mesmo esta é passada a pente fino pelo próprio Salazar para que a Assembleia Nacional representasse as várias sensibilidades sem questionar o chefe e os valores do regime.

O quatro factor foi a repressão, preventiva e mais eficaz e punitiva, para os infractores, que eram uma minoria como “são sempre”, através de um aparelho de justiça política com polícia, tribunais e prisões.



TRINTA E CINCO MIL
PRISIONEIROS POLÍTICOS

Entre 1926 e 1974 devem ter sido uns 35 mil os prisioneiros políticos” – assegura Fernando Rosa, destacando os períodos da Guerra Civil de Espanha e o rescaldo da campanha de Humberto Delgado. A repressão preventiva era exercida pela propaganda, censura, escola com livro único, canto coral, controlo dos lazeres (através da Mocidade Portuguesa), das corporações e das mulheres, da FNAT e das Casas do Povo.

Esta repressão preventiva fazia uma “economia do terror e tornava a violência desnecessária. Foi eficaz e sentimo-la ainda hoje”. Fernando Rosas apontou o fado – criticado e depois sagrado — como exemplo do que Salazar fez ao Benfica: “colou-se aos êxitos internacionais do clube para fazer política interna e sobretudo externa".

Tuesday, January 3, 2012

De Guimarães a Braga: “tu fazes parte”. E nós?




Uma das mais bonitas surpresas que os vimaranenses podiam ter feito aos bracarenses está à vista de todos: um cartaz espalhado pelas avenidas principais da Roma Portuguesa com um coração estilizado cheio de gente dentro — a simbolizar a Capital Europeia da Cultura — a convidar os bracarenses — que celebram a Capital Europeia da Juventude, onde se declara: “tu fazes parte”.

Este convite “Tu fazes parte” que Guimarães dirige a Braga constitui o primeiro passo para um novo paradigma — ai que palavra tão na moda! — nas relações entre as duas principais cidades do distrito de Braga.

Na minha modesta opinião esta é a primeira grande celebração da Capital Europeia da Cultura, mesmo contra a corrente de uma certa opinião bacoca e parola, de modo a que os habitantes de um e outro concelho acabem, de uma vez por todas, com essa conversa bafienta e enterrem esse linguajar subdesenvolvido.

No tempo em que se inicia um novo acordo ortográfico, era bom bom que as duas cidades celebrassem todos os dias um novo acordo de linguagem e de sentimentos que apenas traz vantagens para as duas cidades e para os dois povos.

Se o ano que agora se iniciou, coloca as duas cidades sob os olhares dos europeus, isso deve-se à cultura, ao património, à juventude, não ao futebol.

É tempo da gíria da bola — sem qualquer estatuto europeu e derrotada pela maioria— deixar de alimentar rivalidades que não elevam os níveis das duas cidades ao patamar a que agora — por força das suas autarquias, do seu passado monumental, das suas associações, dos seus criadores de artes e dos seus jovens — foram justamente classificadas.

A gíria divide, separa, destrói, aniquila: contraria coração da CEC e destrói o símbolo dinâmico e apontado ao futuro da CEJ. Nem Guimarães nem Braga merecem que a minoria do jargão se sobreponha às grandes celebrações das duas cidades.

Braga responde com um desafio aos jovens a lutar pelas verdadeiras condições do seu desenvolvimento, no acesso ao mercado de trabalho e na realização dos sonhos. Também os jovens de Guimarães fazem parte e já foram convidados, ao longo de uma maratona que percorreu todos os concelhos do distrito.

Braga e Guimarães apontam o dedo adultos, detentores da gíria que nos embruteceram ao longo de décadas, negaram aos jovens os sonhos e os mantiveram anestesiados com jargões e uma vida sem valores.

O convite “Tu fazes parte” constitui é um desafio para despertarmos da conformidade ou do sono da aceitação acriteriosa da sociedade vazia e mesquinha, porque só assim pode ser mais humana, livre, verdadeira, justa, criativa, fraterna.

Que a cultura, lá, e a juventude, cá, nos façam sair a todos deste torpor que nos engaiola na mediocridade sem darmos conta da nulidade que somos quando nos limitamos a ser menos que macacos de imitação.

Este cartaz tropeça traduz uma das frases mais bonitas que me atropelaram ao longo da vida: não conseguimos segurar uma vela para iluminar o caminho de outra pessoa, sem clarearmos o nosso próprio.

A frase pertence ao médico americano Orison Swett Marden (1850 - 1924) segundo o qual "uma vela nada perde quando, com sua chama, acende uma outra que está apagada”, como se pode ler no seu livro How to get what you want (Como realizar aquilo que desejas).

A voz dos indignados ou um grito de Deus!

Há pequenos sinais de que o mundo está a mudar. Em Harvard, um grupo de 70 estudantes saiu da sala de aula de Economia base, para denunciar que o curso "possui uma limitada visão da economia que perpetua sistemas problemáticos e ineficiente de desigualdade económica no nosso sociedade de hoje.

Contrariando a opacidade e o silenciamento imposto por parte dos media, vão surgindo na internet tomadas de posição acerca do alcance e fundamento que os movimentos dos "indignados" estão a ter em muitas cidades do mundo, com particular destaque para a contestação que se mantém em Wall Street, um lugar altamente simbólico do sistema financeiro mundial.

O Movimento Ocupar Wall Street (OWS) pode ser visto como dando um grande impulso para a reforma das Finanças.
Inspirado pela primavera árabe e manifestação dos indignados "em Madrid, OWS começou em 17 de setembro de 2011 perto da Wall Street, símbolo do mundo financeiro.

Ele mostra a democracia participativa em acção. Começou despercebido com a escassa cobertura dos media, mas rapidamente OWS tinha se espalhado para 951 cidades em 82 países. Não tinha a intenção de se limitar aos EUA ou Finanças, mas para chamar a atenção para a crise mundial. É um grito de justiça económica, responsabilidade, democracia e dignidade humana. Para os cristãos, isso podia ser visto como um grito de Deus — como escreve Antonella Ferrucci, no Economy of communion.

Wall Street foi escolhida como símbolo de protesto, mas é preciso revisitar a crise financeira em 2008, quando o governo dos EUA socorreu os bancos em quase colapso devido à sua acção irresponsável, muitas vezes sem ética financeira, alimentada pela ganância.

O mercado mostrou-se ineficiente, imperfeito e irracional. Para evitar colapso financeiro, o governo dos EUA injectou neles 700 mil milhões de dólares.
O desemprego continuou a subir. Isso foi visto pelo cidadão como a privatização dos ganhos e socialização das perdas.
Com o sector bancário recuperado, os banqueiros continuaram com práticas de auto-serviço e compensação excessiva. Os senhores de Wall Street esqueceram a missão da banca, que é fornecer suporte à economia.

O movimento pode não ter qualquer agenda para os jornais e televisoes, mas tem um objectivo: a Justiça económica.
OWS denuncia a injustiça e a corrupção da política pela finança, lobby e contribuinte das campanhas políticas, que paralisa o governo para o bem comum.

A amizade e o respeito demonstrado pelas pessoas em reuniões OWS mostram outra faceta do ser humano: temos uma sede de relacionamento profundo e autêntico.
Em protesto contra a expulsão de manifestantes pela polícia, os clérigos da Catedral de São Paulo, em Londres, demitiram-se.

O Arcebispo de Cantuária pediu um imposto sobre transacções financeiras, como tinha feito o Conselho Pontifício de Justiça e Paz, e condenou a excessiva remuneração dos executivos.

Talvez agora, incentivado pela voz pública, o governo possa enfrentar os interesses das empresas, e os cidadãos possam restaurar a justiça económica. Ou seja, um governo melhor e um mundo mais equitativo e sustentável.

O mundo — em especial a Europa — precisa de uma Economia com face humana, porque a Economia focada na eficiência e na maximização do rendimento, foi um fracasso e não legitimidade moral nem capacidade para vir impor as soluções para uma crise que ela causou.

Braga... porque ninguém ama o que não conhece